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É preciso sempre saber quando se acaba uma etapa da vida.

Tenho refletido muito se não é chegada à hora de deixar de lado as grandes viagens solitárias a bordo de uma motocicleta.

Se eu insistir em permanecer nelas, depois do tempo necessário, acho que perderei a alegria e o sentido do resto.

 

Quando já somos maduros, financeiramente resolvidos, temos uma família formada, saúde, casa, carro, moto... fica fácil programar uma longa viagem por outros países e até continentes.

Então viajamos, viajamos, viajamos... no meu caso sempre preferi viajar solo, algumas vezes com um ou dois parceiros e raramente com a esposa.


As distancias vão ficando cada vez maiores e os desafios e riscos seguem ao lado, mas a experiência adquirida em cada nova jornada faz com que aquilo que era uma aventura, uma “expedição” como dizem alguns, passe a ser um “passeio” forma que usei para nominar minhas últimas aventuras solitárias.

No tempo da Belém/Brasília com aquela lama toda ou na implantação da Rio/Santos tudo era alegria, aquelas motos que quebravam, furavam pneus, os mapas ESSO sempre molhados, as precárias roupas de proteção... agora temos GPS, equipamentos de proteção térmicos, pneus que raramente furam, boas estradas, internet, Google Maps, Ruta0, MapSource, ótimos capacetes, celular, rastreadores e tantas ferramentas mais...

As reservas e busca de hotéis passou a ser até uma distração, os radares são plotados e até as lombadas indicadas na tela. 

Existe até o BrazilRiders, uma irmandade a qual pertenço com muito orgulho, dedicada exclusivamente ao congraçamento e ajuda ao motociclismo de viagem. Temos irmãos em todos os Estados e em dezenas de países.

Com o passar do tempo, a idade vai chegando, a força diminuindo, a visão piorando, a memória falha, o cansaço vem mais cedo, a paciência diminui muito. Essa é a mais pura verdade. Então vem a pergunta: -

Será que não é chegada hora de parar?

A tarefa é geralmente muito difícil porque o grau de dependência do motociclismo, as raízes criadas ao longo do tempo, as amizades, os lugares visitados é muito grande. Nosso envolvimento com o motociclismo é ainda totalmente inexplicável.

Estive pensando: será que é preciso ter um grave acidente para deixar as grandes e cansativas viagens? Será que aos 70 anos com 54 sobre uma moto e mais de 470.000 km rodados ainda não chegou à hora de parar? Parar não de pilotar motos, mas de passar horas pilotando sob sol e chuva, encharcado ou assando? Parar de procurar hotéis a noite em cidades estranhas, parar de carregar aqueles bauletos pesados cheios de roupa suja ou molhada? Parar de sentir vontade de estar em casa ou no carro com o ar condicionado ligado, ouvindo uma bela música?

O fato é que precisamos das escolhas na vida, isso nos faz viver mais e com mais gás e é bom que tenhamos essa possibilidade, tristes aqueles que não têm escolhas. Acho que qualquer escolha que venhamos a fazer, embora não seja tão boa em algum ponto, vai ser melhor em muitos outros.
Antes da última viagem que fiz em outubro conhecendo um lado do Uruguai ainda por mim não explorado e visitando diversos amigos na região sul do Brasil, tomei a decisão de deixar de lado as grandes aventuras. Já saí de casa com esse espírito.

No motociclismo não sou exemplo para nada, apenas um motociclista experiente, bem rodado que se conscientizou de que chegou sua hora de parar.

Por outro lado, vou oferecer incondicionalmente o apoio para qualquer que seja a consulta recebida de outros motociclistas iniciantes sobre trajetos, clima, hospedagem, rutas, GPS.

Continuarei escrevendo sobre motociclismo e fazendo com minhas motos algumas pequenas viagens de até 500/700 km. Abandonar totalmente as motos? 

...Talvez, mas só daqui a alguns anos mais.

Fiz muitos amigos no motociclismo, sei quem são e o que são e posso dizer com todas as letras que enquanto quiserem nossa amizade perdurará. Nunca precisei aprender através de duros golpes, descobri que consigo aprender pelos suaves toques.


Fechando os círculos, fechando portas ou fechando capítulos, como se queira chamar, o importante é poder fechá-los, deixar ir momentos da vida que se vão enclausurando.

Descobri dessa forma a hora de parar, agradeço ao Criador todos esses anos de proteção, viajando ao meu lado, sem qualquer acidente.

Fiquem todos com meu fraterno moto abraço.

Gugu

Otavio Araujo – Gugu 
70 anos, motociclista a mais de 50, administrador, empresário em Taubaté/SP

 

FONTE: http://www.rotaway.com.br/content.asp?cc=7&id=916

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